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quarta-feira, 30 de março de 2011

Procrastinar nos "coisifica",como diz Drummond de Andrade

Eu, etiqueta
Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório
um nome… estranho.
Meu blusão traz lembrete de bebida
que jamais pus na boca, nesta vida.
Em minha camiseta, a marca de cigarro
que não fumo, até hoje não fumei.
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes, gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência, indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que incidência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou – vê lá – anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem,
meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.
DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O Corpo. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1984, pp. 85-87.

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Gagueira em foco

Recebi este e-mail do conselho de fonoaudiologia.É bastante interessante.Vejam:
"A fala foi o ponto de partida para contar uma história de amizade, no filme "O discurso do rei".
O ator Colin Firth teve que aprender a gaguejar para atuar como alguém que está lutando desesperadamente para deixar de ser gago: o rei George VI, da Inglaterra."
http://g1.globo.com/videos/jornal-nacional/v/filmes-indicados-ao-oscar-tem-a-fala-como-caracteristica-marcante/1442964/

Abaixo, aspectos relacionados à gagueira que foram abordados em entrevistas com fonoaudiólogas nos programas de televisão “Mais Você” e “Programa do Jô”, ambos exibidos pela Rede Globo.
Clique aqui para acessar os vídeos:
http://maisvoce.globo.com/videos/v/gagueira-conheca-as-ultimas-novidades-no-tratamento-que-deve-comecar-cedo/1444233/#/programas/20110224/page/1

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sábado, 26 de março de 2011

O bambu chinês e o carvalho


O bambu tem seus galhos finos e bem compridos com uma folhagem leve. Depois de plantada a semente deste incrível arbusto, não se vê nada por aproximadamente 5 anos - exceto o lento desabrochar de um diminuto broto, a partir do bulbo. Todo o crescimento é subterrâneo, invisível a olho nu, mas... uma maciça e fibrosa estrutura de raiz que se estende vertical e horizontalmente pela terra está sendo construída. Então, ao final do quinto ano, o bambu chinês cresce até atingir altura de 25 metros.
O carvalho é uma árvore de tamanho médio variando entre 25 e 30 metros, tronco com 1.5 metro de diâmetro e folhas grandes com 8 a 20 centímetros de comprimento e 3 a 6 centímetros de largura. No Japão, esta árvore é usada desde tempos antigos para a produção de carvão vegetal, por ser uma árvore de crescimento rápido, cerca de 10 anos.

Diz uma lenda chinesa que em um bosque existiam muitos tipos de árvores.
Duas delas se sobressaiam por serem radicalmente diferentes: o bambu e o carvalho.
Num determinado dia houve uma grande tempestade, com fortes ventos que incidiam sobre elas.
Quanto mais o vento soprava mais o carvalho, com sua robustez, fazia resistência a ele até não poder mais e sucumbir, sendo arrancado do chão e ficando com as raízes para o ar.
Já o bambu, à medida que a tempestade persistia, curvava seus galhos longos e flexíveis acompanhando o movimento do vento chegando mesmo a tocá-los no chão, mas ainda muito bem enraizado.
Ao final da tormenta, o bambu recompôs-se voltando ao seu estado natural, enquanto o carvalho jazia fora de sua cova.

Gosto muito desta fábula que me faz pensar sobre como reagimos às adversidades da vida:
Quanto mais resistimos em aceitar as intempéries, ou seja, em aceitar os problemas que, naturalmente, surgem em nosso dia a dia, mais nos colocamos como o carvalho, insistindo em negar que precisamos enfrentá-los ficando assim ameaçados de sairmos de nosso eixo de equilíbrio, e deixando de viver nossa vida. Viramos carvão, árvore morta.
O bambu chinês nos ensina que não devemos desistir facilmente de nossos projetos, de nossos sonhos... Devemos lembrar e usar o longo caminho que percorremos para sermos o que somos.  O bambu chinês é capaz de curvar-se até o chão diante de um vendaval. No entanto, tão logo cesse o vento, ele se reergue.
Quanto mais nos colocamos humildemente como o bambu, e enfrentamos as dificuldades que nos são impostas, aceitando-as como situações naturais da vida, apesar do sofrimento inevitável que vem junto, mais podemos extrair crescimento e aprendizagem e podemos nos tornar pessoas melhores.
Pense nisto!!! 
Angela Ferro 

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terça-feira, 8 de março de 2011

pro cras tinar a felicidade

Certa vez, conversando com uma senhorinha de mais de 90 anos, ela me explicou a história de Santo Expedito (veja a figura logo abaixo). Falou que ele era um militar que um dia, resolveu mudar de vida. O espírito do mal apareceu para ele em forma de corvo e lhe segredou: "Cras, Cras, Cras", palavra latina que quer dizer “amanhã”, isto é, “Deixe para amanhã! Não tenha pressa!”. Santo Expedito, pisoteando o corvo, esmagou-o gritando: "Hodie", querendo dizer “hoje”: "Nada de deixar para amanhã, nada procrastinar, é para já"! Desde aquele dia, a palavra procrastinar passou a fazer um sentido muito maior prá mim Percebi de forma mais profunda, naquele dia, que muitas vezes as pessoas (eu não me excluo) deixam de viver bem o dia de hoje, porque procrastinam sua felicidade. Achamos que só seremos plenos e felizes quando nossas metas forem satisfeitas: - quando eu tiver um namorado... - quando eu for à Europa... - quando eu comprar minha casa... - quando, quando, quando... Não quero dizer que não devamos ter sonhos e/ou metas de conquistas. Nem que devamos ser Pollyana, e nos contentar com o mínimo. O que penso é que, muitas vezes, acabamos não vivendo a vida que já temos, pensando que vai chegar um dia em que seremos SUPER, MEGA, MASTER felizes. Com isto cometemos alguns tropeços: Deixamos de dar o devido valor e atenção ao nosso caminho já trilhado, às nossas conquistas já realizadas, às pessoas que nos acompanham hoje, à realidade que estamos vivendo agora. Enganamo-nos ao acreditar que é possível ser constante e plenamente feliz. Esquecemos que o sentimento de plenitude - que caminha de mãos dadas com a simplicidade - é um estado de espírito de alguns momentos e que, quanto mais satisfeitos estivermos com o que vivemos hoje mais momentos felizes poderemos ter. Estas reflexões me fizeram levantar um novo tema: o que será que impulsiona, nesta vida moderna, as pessoas a comprarem compulsivamente? Será que é só uma resposta à propaganda excessiva que promete a felicidade se você usar tal margarina, ou tal shampoo, ou aquela marca de tênis que o artista holliwoodiano usa? Será que tendo as pessoas acreditam que acabam sendo? O que você acha? Vamos pensar juntos? Angela Ferro

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